sexta-feira, 27 de maio de 2016

Ultra Trilhos dos Abutres - 30 Janeiro 2016

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Sim, estou a publicar este post quase 4 meses depois da prova. Até para os meus parâmetros é muito tempo. A verdade é que já tinha grande parte deste texto escrito à algum tempo, mas não me apeteceu publicar. Queria fixar esta memória com um último paragrafo de esperança e optimismo. E este fim de semana, no regresso aos trilhos em Sintra, consegui finalmente escrever esse final...
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Os Abutres não querem, definitivamente,nada comigo. Mais um ano, mais uma prova, mais um DNF...

Terá sido a prova que comecei com mais receio, medo até. Depois da experiência do ano passado, tudo me acagaçava, e, ainda não estando completamente recuperado dos entorses crónicos do pé esquerdo, o receio de ficar pelo caminho era bem fundado. Mas nenhum dos cenários de tragédia e horror que pintei nos dias anteriores me poderia preparar para o que me aconteceu naquela fatídica prova.
A foto que já é um clássico em Miranda do Corvo...
A coisa até começou bem. A chuva e mau tempo deram uma trégua e seria quase impossível ter melhores condições meteorológicas. Saímos de véspera, como o ano passado, e ainda deu para irmos comer uma chanfana no restaurante do costume. Parecia que Monsanto se tinha mudado para Miranda do Corvo, tantas eram as caras conhecidas. A excitação era tamanha que desta vez a noite no solo duro foi quase em branco, mas às 8 horas em ponto estávamos prontos para mais uma aventura. No meu caso, micro aventura.

É curioso como podemos passar dias, semanas até meses sem que nos aconteça nada que verdadeiramente mereça registo na nossa memória. E depois, no espaço de um segundo tudo pareça que vai desabar em cima nas nossas cabeças.
Ainda no inicio. Como sei? Ainda estou a correr...
Comecei a prova como no Vicentino, sem me preocupar em seguir ninguém e com super cuidado onde metia os pés. Quis o destino que por acaso não tenha andado muito longe de alguns dos elementos da pandilha. E foi o que me valeu quando aos 30 minutos de prova e ao tocar do 5km, cai. No exacto momento em que bato no chão sei que a minha prova acabou ali, e as primeiras lágrimas são pela frustração de mais uma vez ir ficar pelo caminho, as seguintes já são mais físicas...

As quedas são geralmente estúpidas, mas esta foi particularmente idiota. Ainda quase dentro de Miranda, num acesso de cimento algo inclinado a umas garagens, sinto alguém a escorregar nas minhas costas, olho para trás sem parar e quando estou  com o corpo torcido escorregam-me ambos os pés e caio completamente de lado sobre o braço direito e a testa.
Segundos após a queda já com o Miguel a dar os primeiros socorros.
Não me lembro de exactamente tudo o que se passou a seguir, mas lembro-me de, ao me ajudarem a endireitar, o braço ficar pendido e ter aquela horrível sensação de na nossa cabeça o braço estar numa determinada posição e quando olhamos está completamente noutra... E claro, depois sentir o osso a mexer dentro do bicipede...

Felizmente tínhamos acabado de passar por um jipe da organização e, com a ajuda preciosa do Miguel Serradas, lá fizemos os 400m em sentido contrário. Aqueles metros terão sido das coisas mais angustiantes que alguma fiz em provas. Entre as dores, a interiorização que a prova tinha acabado e o passar em sentido contrário por centenas de atletas... Mais uma vez valeu o Miguel que qual GNR num local de acidente, exortava o pessoal seguir: "Tá tudo bem, nada aqui para ver."

Entregue ao pessoal da organização lá convenci o Miguel a continuar, e foi com grande alegria que ao final do dia fiquei a saber que tinha terminado. Fui rapidamente transportado para o Hospital de Coimbra e depois de algumas situações caricatas lá tive o diagnóstico, fractura do úmero. Quando dei entrada na urgência não devem ter acreditado que tinha o braço partido e devido ao corte no sobreolho mandaram-me para a cirurgia estética. Depois do que na altura me pareceu uma eternidade,  fui atendido por uma estagiária, que, após estar 5 minutos a olhar para mim sem saber muito bem o que fazer decide auscultar-me. Os meus gritos de "PODE CORTAR! PODE CORTAR" quando ela me tentava despir o corta-vento devem ter chamado a atenção de um médico mais sénior que de imediato mandou darem-me uma injecção para as dores e levar-me para o raio-x. No raio-x, as técnicas ficaram muito preocupadas com uma massa muito densa que tinha no peito... Nota, quando forem tirar raios-x lembrem-se de tirar a banda cardíaca... Quando finalmente chego à ortopedia e começam a engessar-me o braço fico aliviado, até me explicarem que devido à localização da fractura terei de ser operado e que o gesso é só para me imobilizar.
Chamemos-lhe "Nu com gesso e calções de compressão"
Mas a minha "ultra" ainda estava a começar. Foram precisas mais de 12 horas, 3 hospitais e outras tantas ambulâncias para finalmente chegar ao local onde, 3 dias depois, viria a ser operado. E digo já, que passar um dia à espera, deprimido, com dores, em tronco nu, vestido apenas com calções de compressão e sapatilhas enlameadas nos corredores de hospitais testa a paciência de qualquer um.

A operação correu bem e devo ter saído com mais juízo pois ganhei 12 novos parafusos, para além de uma cicatriz sexy de 30cm. Nunca tinha estado hospitalizado mas a verdade é que fui muito bem tratado no Hospital de Sant'ana na Parede.
Não, não tenho uma centopeia agarrada ao osso, é mesmo uma placa e 12 parafusos!
Os últimos meses têm sido de recuperação e embora só tenha estado "parado" 6 semanas foi o suficiente para perder completamente a forma. Só para terem uma noção, nessas 6 semanas, sem praticamente sair de casa e a comer como se tivesse uma dispensa na divisão ao lado, perdi 4kg... Os pouquinhos músculos que tinha evaporaram-se. A primeira corrida que dei pensei seriamente que o coração me ia saltar do peito, a correr a mais de 5min/km, no passeio marítimo...

Este reset forçado acabou também por proporcionar um descanso à cabeça. A verdade é que desde que comecei a correr, em 2010, nunca tinha estado parado mais que alguns dias. Vou dizer uma blasfémia, mas tem sabido tão bem ficar na cama ao Domingo de manhã... (pelo menos até a Mafalda acordar às 8h da manhã, é a loucura). Durante este tempo fiquei-me pelo alcatrão, aumentado muito progressivamente o ritmo mas muito raramente saindo da zona de conforto.

A semana passada fui à última consulta de acompanhamento da cirurgia e o médico deu-me "alta"! Ok, o osso está consolidado mas a recuperação total irá levar meses, pelo que tenho de ter juízo. Para comemorar fui para Sintra e nem me custou nada levantar às 6:00 de um Domingo. Foi muito bom voltar aos trilhos com os amigos. Claro que eles não tiveram este tempo a malandrar e após estar 2 horas a atrasa-los fiquei com um empeno nas coxas que até quarta-feira me obrigou a ficar na "zona de conforto".

Não sei o que se segue. Todas as provas em que estava inscrito ou tinha planeado realizar tiveram de ser canceladas. E a verdade é que por enquanto não estou nada ansioso de voltar a provas, estou bem a curtir a corrida com amigos.
Peninha - 22.05.2016



segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

III Trail Centro Vicentino da Serra - 10 Janeiro 2016

Foi ÉPICO!
Porque consegui terminar e sem mazelas (de maior)... Se tivesse ficado pelo caminho se calhar teria escrito um amargurado trail duro e demasiado "extreme"... Mas poucas coisas superam aquele momento de glória, em que passamos por baixo do pórtico para uma sala cheia de sorrisos, depois de 7 horas de pensamentos algumas vezes(muitas) sombrios. E por isso foi Épico!
A melhor foto que tenho de corridas!
O ano passado este foi o trail que mais pena tive de não ter ido, principalmente depois de todos os relatos fantásticos que li. Pelo que, para 2016 estava no topo das minhas prioridades. E como nos dias que correm os trails esgotam mais depressa que bolinhos quentes, fiz questão de me inscrever mal abriram as inscrições. E foi uma autentica festa! Acho que nunca tinha ido a uma prova onde conhecesse tanta gente. Parecia que Monsanto se tinha mudado para Portalegre!
A partida ainda tudo muito fresco.
A organização esteve impecável e montou uma das melhores provas onde já participei. Não só pela prova em si mas também por todos os eventos paralelos que tornaram o TCVS numa autentica prova familiar. Quero evidenciar em particular dois que a família Soeiro teve o prazer de participar: o Vicentino Kids Night Run e o Autocarro de acompanhantes.
O primeiro foi um super sucesso e com uma ajuda preciosa de S.Pedro transformou o Jardim do Tarro num recinto de festa. Foi fantástico ver a alegria dos miúdos de frontal na testa a iluminar o jardim. A Margarida, na sua qualidade de "Traquina", adorou correr de noite por entre lama e canaviais. Segundo ela foi a melhor corrida em que já participou! E a entrega das medalhas foi simplesmente extraordinária! E o orgulho com que levou a medalha e o frontal no dia seguinte para a escola para mostrar aos colegas...
O Autocarro de acompanhantes, apesar da meteorologia adversa e de um ou outro desencontro de expectativas, foi também um sucesso ao colocar autenticas claques no meio da serra. Não só foi muito bom receber o apoio das minhas meninas no 2º PA, como assim puderam preencher uma boa parte das 7 horas que de outra forma teriam de ser passadas à espera no mercado.

Também a nível das lembranças esteve muito bom, com um dorsal indestrutível (tive inclusive de utilizar um corta unhas para o conseguir furar para o colocar no porta dorsal), uma boa tshirt de manga comprida muito colorida (mas afinal estamos a falar de malta que anda com "lenços" berrantes à cabeça só por que sim) para além de uma chávena de café da delta. No pack dos kids ainda tinham um frontal.
A atleta e o emplastro! (legenda por Liliana Eusébio)
Partida Lagarta Fugida!
Ambiente contagiante na recta final da prova dos traquinas!
Em relação à prova em si. Com marcações irrepreensíveis, aliado ao facto de à minha passagem existir sempre um rio de lama a indicar o percurso, era efectivamente difícil sair do trajecto. As placas "informativas" também estavam fenomenais, dando a sensação que a organização estava sempre connosco. É verdade que em algumas, principalmente para o final, só tinha vontade de esmurrar quem as escreveu... como por exemplo na "Amazónia Vicentina" ou "Uphill Vicentino"...
Passámos por bombeiros e pelo menos uma tenda da cruz vermelha. Vários voluntários ao longo do percurso, à chuva e ao frio, apenas para nos indicar o caminho, facilitar uma travessia de estrada ou até pular um riacho. Super prestáveis e simpáticos mesmo quando, já a evidenciar alguma saturação de lama entre os neurónios, perguntei algo brusco se faltava muito para o último abastecimento.
NÃO ESTÁS A OLHAR PARA O CHÃO! QUERES TORCER O PÉ?
Os abastecimentos estavam nos sítios certos e com o essencial e mais alguns mimos como o salame de chocolate (hummm) ou a boleima (hummmmmmm). A coca cola era coca cola e havia isotónico e água com fartura. Para a malta lenta, como eu, a sopa no último abastecimento terá sido demasiado tarde. Se tivesse no abastecimento anterior, onde o vento e o frio apertavam teria sido mais eficaz. Ali no 37km já se sentia o sabor da meta.

Em relação à minha prova, tentei acompanhar os menos rápidos da pandilha, mas depressa percebi que não tinha a forma e a técnica para os acompanhar. As condições meteorológicas muito agrestes transformaram os trilhos desde logo técnicos em verdadeiros escorregas de lama, e com o meu pé esquerdo ainda em recuperação passei os primeiros km's literalmente a olhar para o chão a contabilizar pedrinhas. Depois lá relaxei um pouco mas sempre a sacrificar a velocidade pela segurança. Para o meio e para não variar lá vieram as cãibras. Certinhas e direitinhas, ao 32km, primeiro a esquerda, depois a direita, obrigaram-me a umas paragens para alongamentos. Felizmente não voltaram a chatear mas fizeram-me (ainda mais se tal era possível) progredir cuidadosamente.
Quando ainda conseguia seguir com parte da Pandilha.
Em bendita hora decidi não levar os bastões. Tal como nos Abutres, com a minha inexperiência e o terreno agreste teriam sido praticamente inúteis, uma vez que era muito mais importante ter as mãos livres para agarrar o que fosse possível. E aqui surge mais uma grande inovação que levei para o TCVS, luvas! Depois de horas a procurar uma luvas para utilizar neste trails mais agrestes recebi uma dica fenomenal, luvas de trabalho, disponíveis em qualquer loja da especialidade (vulgo chinês) e por um par de euros. Com a zona da palma emborrachada protegiam ou mesmo tempo que garantiam a tracção necessária. Comecei a prova sem elas, mas à medida que ia subindo a serra o frio começou a fazer-se sentir, e graças à experiência do ano passado nos Abutres, reconheci logo os primeiros sinais de problemas e coloquei as luvas. E a verdade é que não voltei a ter as mãos trôpegas e os únicos arranhões com que fiquei foram feitos antes da entrada em cena das ditas.

Perdi a conta às quedas que dei. Felizmente sem consequências de maior, à excepção de uma mega escorregadela nas lajes da "Cordilheira Vicentina" em que ao rolar para me agarrar dei um jeito ao ombro direito que ainda me incomodou durante uns minutos. Depois lá passou e até agora não voltou a chatear.
"São elas, são elas!" O reencontro no PA2.
Os primeiros 14km foram espectaculares, do melhor que alguma vez corri em trilhos. Single tracks sem fim e paisagens deslumbrantes. A organização não se poupa a esforços para animar os atletas, desde palhaços, salamandras gigantes e até um sonoro grupo de índias. O terreno estava pesado, mas sempre corrivel. Apenas as longas filas de atletas diminuíam o ritmo. Lembro-me do Sílvio comentar que as minhas meias ainda estavam muito brancas... E claro, tudo fica mais extraordinário quando, no alto da serra, temos à nossa espera as minhas lindas flores.

Nos km's seguintes tudo começa a complicar. Tenho cada vez mais dificuldade em seguir a malta e no 3 PA, onde até havia café expresso embora eu não tenha bebido, digo ao Sílvio para seguir. A partir deste ponto, sem a motivação da companhia e efectivamente sozinho durante largos períodos, entro em modo de sobrevivência e reduzo ainda mais o ritmo.
"Pare, escute e aprecie a paisagem!"
A meteorologia esteve sempre muito agreste, mas no topo da serra chegava a meter um pouco de medo, com o vento a fazer um barulho ensurdecedor entre as árvores e a chuva a nos castigar completamente na horizontal.

No briefing inicial o Director de Prova bem tinha avisado para não esperarmos facilidades depois do 30km, e efectivamente não estava a minimizar a coisa. Pessoalmente não aprecio que as provas tenham muitas dificuldades no último terço. As pernas já não estão frescas e a cabeça já começa a saturar. Mas aquilo que apanhámos nos últimos 12km do TCVS foi um percurso muito exigente que com a intempérie se transformou num dos mais duros finais de prova que alguma vez fiz. Nesta altura, e até devido às cãibras sou ultrapassado por vários atletas, mas mesmo assim ainda ultrapasso outros, na sua maioria em dificuldades devido a quedas ou entorces. 
A empatar atletas desde 1980.
Durante estes km's muitas vezes a minha mente avança 3 semanas e pensa naquilo que irei encontrar na Lousã. Pergunto-me muitas vezes se fará sentido meter-me noutra reconhecidamente ainda mais dura quando estou em tantas dificuldades nesta. As comparações com os Abutres, na minha cabeça, foram muitas, e pelo que percebi depois não fui o único. Para mim a grande diferença entre o TCVS deste ano e os 30km dos Abutres do ano passado foi que, embora ambos tenham sido muito duros, aqui nunca encontrei situações estupidamente perigosas. A única coisa que me deixou um pouco mais esperançado para o final do mês é que consegui passar no PA dos 29km em 4h30, com alguma margem para a célebre barreira horária que irei ter que derrubar.

Nos últimos km's já só sonho com o mercado, e embora tenha de fazer ainda mais um trilho técnico a subir, acelero. Vejo Portalegre e entro num estradão, o meu coração rejubila com a ideia de o seguir até à cidade, mas não. Conseguimos ir quase até à porta do mercado por trilhos. Última rampinha e depois, finalmente, o mercado.
"Não tira os olhos do chão!" 10258 pedrinhas, 10259 pedrinhas...
A chegada do TCVS é apoteotica, mesmo para a malta do fim do pelotão. Subir aquela passadeira vermelha e celebrar ter completado mais uma grande prova. O José Presado estava na meta a receber os atletas e anuncia o meu nome no sistema de som, mas tudo o que quero é procurar as caras conhecidas que sei que ansiosamente me esperam. Vejo-as, sorrio, está tudo bem. 
Ainda recebo das mãos da Liliana a linda medalha também ela moldada por mãos especiais da CERCI de Portalegre.

Foram 7h10 de prova, teoricamente com 42km e 1700m D+ embora o meu relógio tenha perdido 1km e o D+ tenha ido até aos 2120m. Pelo que vejo no STRAVA a maioria dos atletas tem os 42km prometidos embora o D+ nos relógios com barómetro ande na casa dos 2100m D+.

Foi uma prova dura, muito mais dura do que estava à espera, obviamente muito devido às condições atmosféricas. Prefiro provas onde me posso focar mais no prazer da corrida do que no espírito de sobrevivência, mas é impossível não ficar rendido com o TCVS. Quer pelo percurso quer pela forma como fomos recebidos em Portalegre.

Queria agradecer à organização por me fazer voltar a acreditar em Ultra Trails. Agradecer também ao resto da Pandilha que me convenceu a inscrever e tanto puxam por mim, principalmente ao Pedro P. pela fantástica foto que tirou à família Soeiro. Aos inúmeros fotógrafos aos quais roubei as fotos que documentam este texto

Por fim queria agradecer à minha enorme Inês que ainda se deixa convencer em ir atrás de mim nestas coisas e que estoicamente aturou as duas pulguinhas, e desta vez com o bónus de um tratamento de criogenia no alto de S.Mamede.

Até para o ano Vicentino!

Os atletas e as medalhas equipados a rigor!
*********ACTUALIZAÇÃO*********
E o Pedro P. continua a supreender, para além de grande atleta e fotografo ainda teve disponibilidade para filmar e criar uma excelente recordação da prova.Também contribuiu para as filmagens outro grande atleta da pandilha o Miguel S.. Eu bem levei a máquina para Portalegre, mas depois não tive coragem para a levar... E sem mais demoras aqui fica o vídeo.



quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Desafio Solidário - A correr por ti

Habitualmente não costumo fazer divulgações aqui no blog, mas desta vez decidi sair do torpor literário e publicitar aqui esta grande iniciativa.

Trata-se do "Desafio Solidário" do projecto"A correr por ti".

"A correr por ti" é um projecto solidário e tem como objectivo juntar a actividade física, a saúde e bem estar à solidariedade. O grande promotor é o Ricardo Monteiro, quem seguiu os programas do Sic Noticias Running pode lembrar-se da entrevista que deu num dos episódios.

Conheci o Ricardo quando um dia apareceu um tipo no FB a organizar um grupo de treinos de corrida em Beja. Fiquei bastante surpreso e contente com a evolução na minha cidade (depois percebi que a ideia era de um Nortenho, mas pronto não se pode querer tudo :). Assim que tive a oportunidade meti-me com ele e fui a dos seus treinos. Foi um bom treino, sempre na conversa e onde me falou do seu projecto solidário.

Uns meses mais tarde quando começou a organizar uma Corrida/Caminhada de solidariedade em Beja achei uma excelente ideia mas, sendo em Beja, julguei que teria pouca adesão... Um engano, não só foi um sucesso com mais de 400 participantes como demonstrou que era possível numa cidade pequena pensar em grande!

Desta vez a ideia do Ricardo é ainda mais abrangente! Um verdadeiro desafio solidário para o mundo!

Deixo aqui a descrição do evento do facebook e o clube no Strava:

Já corre? Quer começar a correr? Gosta de ajudar? Gosta de ser solidário? Gosta de ganhar prémios?
Então este desafio, foi feito para si!
O objectivo do Desafio Solidário A correr por ti, é juntar a vertente running com a solidariedade. 

Como é que vai funcionar?
- Ganha este desafio, quem fizer mais km's a correr, no mês de Janeiro de 2016;
- Para registarmos os km's e treinos que faz, tem de publicar no evento, os seus treinos, através de fotos ao relógio ou telemóvel com o dia e km's ou partilha do treino através da aplicação que costuma usar no seu telemóvel ou relógio;
- O valor angariado, neste desafio, reverterá a favor de uma instituição, associação ou pessoa, escolhida pelo vencedor;
-Todos os participantes, poderão vir a ganhar prémios, para se habilitarem aos mesmos, que serão sorteados aleatoriamente, terão de fazer o mínimo de 10 treinos de corrida, em Janeiro de 2016;
- Os participantes inscrevem-se no desafio, durante Dezembro de 2015, através do email acorrerporti@gmail.com, indicando nome, morada e tipo de inscrição. Deverão também enviar o comprovativo de depósito ou transferência do valor de inscrição, para o mesmo email;
- O valor da inscrição, são 5€ ou então 12,5€ (portes incluídos) e têm direito a uma t-shirt ou um buff A correr por ti;

A página A correr por ti, só receberá o valor que pagou por cada t-shirt ou buff, vendidos. O resto do valor, reverterá a favor da instituição, associação ou pessoa, escolhida pelo vencedor do desafio.
Várias empresas e pessoas de todo o país, irão doar bens e serviços, para serem sorteados na primeira semana de Fevereiro de 2015, por todos os participantes que cumpram o estipulado, ou seja, inscrição e respectivo pagamento e os 10 treinos obrigatórios.
Não estão garantidos prémios para todos. Mas todos se habilitam a ganhar algo.
Qualquer dúvida, podem contactar por email (acorrerporti@gmail.com) ou por mensagem privada na página A correr por ti.
Boa sorte e boas corridas!!!

E pronto, agora vão lá ver a página e inscrevam-se. É fácil, interessante e verdadeiramente solidário!

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Há esquilos em Monsanto II

Fez hoje 2 anos que me estreei na "Hora do Esquilo", e como tal, decidi assinalar aqui a data.

Foi um pequeno acto de fé mas que teve enormes repercussões na minha vida desportiva. Vendo em retrospectiva talvez se tenha aproximado mais da loucura: com praticamente zero experiência em trilhos, correr de noite em Monsanto e ainda por cima com um grupo "avançado". Claro que, na altura, eu não sabia esse pequeno detalhe, nem facebook tinha! Felizmente acertei em cheio no dia para fazer uma estreia. A Convocatória foi:

*** HORA DO ESQUILO *** 29/OUT/2013 ***
Treino em ritmo sereno-tranquilo.
Excelente oportunidade para conhecer a primeira parte do percurso Trepador, mas num ritmo ao alcance de todos, ninguém fica para trás!

29/10/2013 A minha primeira esquilo-foto!
Após 2 anos de idas à "Hora do Esquilo" e em perspectiva foi efectivamente um treino muito "sereno" mas o ideal para me fisgar ao trail. Foi com esta malta que fiz os treinos mais duros e os mais divertidos. Agora lembro com alguma nostalgia os treinos em que completamente desorientado na noite de Monsanto (antes de começar a correr à Hora do Esquilo nunca tinha corrido em Monsanto) com o coração no limite, no fim do grupo a tentar desesperadamente não perder contacto com as luzinhas da frente. Épico.
13/03/2014  <TTT> "Apenas" o treino mais brutal que já fiz nos Esquilos!
Mas acima de tudo o que me prendeu ao grupo é o fantástico ambiente. Sempre a puxar uns pelos outros e a partilhar as várias experiências. É sem dúvida esse o grande sucesso deste treino, com um registo diário nestes 2 anos praticamente imaculado (que me lembre apenas por um par de vezes não houve quórum).
29/05/2014 Neste dia calhou-me a mim tirar a tradicional esquilo-foto.
Como todas as sequelas também esta se deve ao sucesso do post original. Com mais de 950 visualizações é de longe o post mais lido aqui do estabelecimento. Provavelmente muitos dos leitores que aqui vieram parar ou queriam ver fotografias de esquilos verdadeiros ou andavam, tal como eu fiz há 2 anos, à procura de mais informações antes de se aventurarem em irem correr de madrugada para o meio do mato. Por esse motivo decidi escrever este post.

A regra mais básica do grupo é: ninguém fica para trás! Mesmo que isso signifique que os mais rápidos andam a fazer "piscinas" para trás e para a frente. É óbvio que em alguns treinos isso não é confortável quer para os rápidos como para os lentos (porque na realidade a tradução da regra é: o último não descansa!).
04/05/2015 Trepador, Tubarões, Sustos e Fantasmas... Daí a minha cara... 6 da manhã e estava eu já preparado para bater uma sestinha sozinho no parque de estacionamento quando me batem no vidro... 180bpm logo ali e o aquecimento ficou feito. Depois, toca de seguir o Luís, qual rêmora e ouvir tilintar e ver vultos pelos trilhos de Monsanto.
Quando me perguntam sobre se terão preparação física para um treino a minha resposta costuma ser: provavelmente sim afinal de contas eu fui praticamente sem nunca antes ter corrido em trilhos. Mas para primeira vez, sugiro experimentarem a ir num dia em que a convocatória seja mais moderada. Há convocatórias no grupo do Facebook todos os dias com a ementa para o dia seguinte. A descrição costuma ser sempre algo enigmática e cheia de siglas mas com um pouco de pesquisa conseguem descobrir o que se trata. Para primeira vez sugiro que evitem convocatórias com as siglas "SSB" (Sabor a Sangue na Boca), "TTT" (Trepador Time Trial) ou qualquer outra que inclua as palavras "RedLine" ou "Diabólico". Procurem antes um "FF" (Fluffy Friday) ou "RSS" (Rolador Sem Stress) de preferência após uma grande prova do trail nacional, que o pessoal costuma estar mais calminho quando está todo empenado.

Para participar? :) Basta aparecer às 6h no parque de estacionamento da estrada do Penedo (junto às antenas) e dizer "Bom dia"!
29/10/2015 Hora do Esquilo by Drone, hoje até houve tecnologia!
PS - Obrigado grande Timoneiro e boa sorte no novo desafio que se avizinha!

terça-feira, 27 de outubro de 2015

3ª Corrida Montepio - 25 Outubro 2015

Uma semana depois de ter feito a Maratona, onde retirei "apenas" 21' ao tempo do ano passado, o bom senso continuou na estratosfera e fui fazer mais uma prova de 10km. 

Como a maioria das corridas de 10km, também esta não estava propriamente no meu planeamento. Mas as razões para participar eram mais que muitas: o carácter solidário, o facto de (mais uma vez) poder disfarçar a coisa como uma actividade familiar, porque a equipa do Clube TAP ia participar e fundamentalmente porque desde as corridas de Setembro fiquei obcecado com os muito ansiados sub40...
A equipa do Clube TAP finalmente em foto!
Antes de correr a Maratona parecia muito boa a ideia ir tentar bater o RP dos 10km uma semana depois (só para lembrar que sou um optimista), a realidade é que embora tenha recuperado muito bem o desgaste de uma Maratona não passa em 7 dias...

Chegámos cedo ao Rossio, até porque a Margarida ia participar na Corrida dos Pelicas. Na realidade esta seria uma verdadeira actividade familiar. A Margarida nos Pelicas e nas actividades, eu nos 10km e a equipa Inês/Mafalda nos 5km carrinho de bebé!

O tempo estava chuvoso e embora a temperatura estivesse boa, antes de começarmos já estávamos todos ensopados.
Tudo pronto? Vamos lá!
O principal motivo que me levou a considerar o devaneio do ataque ao RP foi a ausência de desnível desta prova. Mas com as pernas ainda pesadas e o facto de, devido a uma confusão na inscrição, ter escrito no meu dorsal sub60, o que significava 2ª vaga e montanhas humanas a ultrapassar, as expectativas na linha de partida eram baixas.

Cerca de 5min depois da 1ª vaga de atletas ter saído (Elite, sub40 e sub50) lá foi dada a partida para o 2º grupo (sub60 e +60) onde eu me encontrava. Uma pequena nota só para dar os parabéns à HMS por mais esta inovação. Acho que funcionou muito bem e é definitivamente o caminho para este tipo de provas com milhares de atletas. Apenas penso existir um detalhe a melhorar, na meta devia existir um cronometro para cada vaga. Todos sabemos o poder dos segundos a passar na recta da meta.

Os primeiros metros ainda fui dentro do pelotão a tentar cuidadosamente ultrapassar devido ao piso escorregadio. Mas 150m a correr a 5'18/km deixaram-me num estado de nervos e frustração que não resisti e fui para o passeio. Com a adrenalina a bombear lá fui eu a assapar passeios da Rua do Ouro abaixo como se, efectivamente, tivesse roubado alguma coisa! Os 400m seguintes até à curva para a Praça do Município foram corridos a 3'45/km. Mas na curva o bom senso retornou e voltando para o alcatrão reduzi muito a velocidade, até porque vi pelo menos 2 atletas no chão... Mas a verdade é que o sprint permitiu-me ultrapassar o grosso do pelotão e a partir daí já consegui correr sem grandes desvios. Passa a primeira placa de km e o relógio apita 4:00, quase que pulava de alegria.
Sempre com cuidado nas curvas! (Foto mBm)
Obviamente que iria pagar o preço de tanta parvoíce e desde praticamente o 2km que me estava a custar manter o ritmo dentro dos 4'/km. A partir do 4km todas as células do meu corpo gritavam para que parasse. No 5km estava pronto para falecer. Quem já fez séries de 400m conhece a sensação naquela última série em que o coração parece querer sair e que o único pensamento é que só um louco se submete a tamanha tortura. Foi o que eu senti durante praticamente toda a prova. A sorte azar é que sou mais teimoso que uma porta e permaneci (é a minha palavra)! Felizmente as pulsações estavam no visor secundário do relógio e nem tive tempo de olhar porque caso contrário não teria continuado com a tortura. A média na prova foi de 182bpm, a média da 2ª metade foi de 187bpm...

Pouco oxigénio chegava ao cérebro mas quando passei no 7km  comecei a fazer contas. Já estava quase 10'' atrás do objectivo, pode não parecer muito mas para mim era uma enormidade e desanimou-me. O 8km foi o mais lento da prova e eu só já pensava: só falta sofrer 2kms, o último a adrenalina resolve.
Calçada? O que é isso? Sofrer? O que é isso? (Foto PortugalRunning)
E a verdade é que a passagem da placa do 9km devolve-me o animo e nem a horrível calçada na Ribeira das Naus me afecta. Avanço decidido e quando faço a cuidadosa curva para o Terreiro do Paço tudo se dissolve e arranco num sprint que nem eu sabia que ainda tinha. Foram 500m a 3:45 com uma média 190bpm. Nestes últimos metros, para não perder a concentração, nem olhei para o relógio e o contador da meta marcava o tempo da 1ª vaga pelo que não servia de referência, eram só as minhas pernas e a meta. 

Quando finalmente parei o relógio e vi 39:36 nem queria acreditar! Tinha conseguido! Sou SUB40! Talvez o objectivo em termos de corrida que durante mais tempo persegui! 
Até as pálpebras estavam cansadas.
Depois fui procurar a Inês e a Mafalda que tinham ido fazer os 5km da "caminhada" a correr e passei mais uma vez a meta com elas.

Acima de tudo, foi uma grande manhã em família, todos encharcadinhos. E pronto, agora posso deixar de "correr aquecimentos".
Foto molhada!

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Throwback Thursday: Rock'n'Roll Maratona de Lisboa 2014 - 5 Outubro 2014


Como podem ter reparado voltei ao activo aqui no blog. Durante a fase de hibernação comecei vários posts mas devido ao carácter temporal dos temas, provas, ao fim de algumas semanas sem conseguir progredir, não só perdia a motivação para os terminar como perdia o timing para os publicar.

Assim, ao longo destes meses fui coleccionando posts inacabados. Agora que estou a tentar colocar a coisa nos eixos lembrei-me de uma expressão que costumava ler nos blogs em língua inglesa (na altura em que ainda tinha tempo para ler blogs, agora só consigo mesmo ler os blockbuster dos blogs de corrida nacional): Throwback Thursday. Numa tradução livre é algo do género "Recordar à Quinta-Feira". O conceito é publicar às quintas-feiras algo do passado que tenha marcado o visado. Ora todos os posts inacabados deixaram uma marca em mim, porque por mais pequenos que sejam, ao ritmo a que escrevo, de certeza que ocuparam um grande espaço de tempo na minha vida! 

Como podem compreender, terminar relatos com meses de iato, leva a que a maioria dos pequenos pormenores já não existam. Por isso não se admirem se alguns destes posts terminem de forma mais abrupta.

Um dos posts que deixei inacabado foi o da Maratona, algo imperdoável! Por isso, e pelo facto de estar a pouco mais de uma semana de voltar ao mesmo percurso foi a escolha óbvia para iniciar esta nova rubrica aqui no botequim.


Rock'n'Roll Maratona de Lisboa 2014 - 5 Outubro 2014

Um ano depois voltei ao "meu quintal" para correr os 42,195 km pela 2ª vez.

A mesma distância, o mesmo percurso, a mesma tshirt mas uma experiência completamente diferente do ano anterior.

Primeiro, e como expliquei no post anterior, a preparação. Ou antes a falta dela, dos treinos longos e da adaptação do corpo ao esforço constante. A confiança não era muita e dai à defesa quer na colocação de objectivos relativamente acessíveis - igualar o tempo do ano passado - quer na aproximação jocosa de forma a manter as expectativas bem baixinhas.

Depois, quase por acaso, nas vésperas da prova arranjo uns companheiros fenomenais. Malta dos treinos em Monsanto que como eu decidiram fazer um intervalo dos trilhos para completar a distância rainha das provas de estrada. Embora tenhamos ritmos muito semelhantes entre os 3 sei de antemão que a minha "preparação" não me vai permitir acompanha-los até ao fim, mas esse "detalhe" não irá impedir-me de tentar.
Os meus grande companheiros de empreitada!
Ainda com as cãibras do ano passado na memória, este ano decido pensar antecipadamente e com tempo os abastecimentos. No ano passado levava as mantimentos mas não tinha plano, ia confiante que seria capaz de ir controlando a coisa mas com a adrenalina perdi um pouco o controlo e às tantas já não me lembrava do que tinha comido e do que precisava. Este ano planei tudo ao detalhe, onde iria beber o isotónico, onde ficaria a fruta e onde comeria as minhas marmeladas. Este ano voltei a fazer uma maratona sem géis.

Um dos problemas que achei na organização do ano passado era o facto de existirem poucos pontos de abastecimento de isotónico. Pode ser psicológico, mas acredito que a ingestão de isotónico está directamente associada às cãibras que tenho e por isso é um ponto fundamental para mim. Daí este ano decidi que iria levar a minha própria provisão. O que implicava levar o cinto ou a mochila.

A mochila era demasiado peso e o cinto não tem espaço para sólidos e sempre que o tenho utilizado para treinos mais longos acaba por me fazer assaduras nas costas. Acabo por me decidir pelo cinto sabendo que vou ter de pagar o preço.
Momento épico em Santo Amaro de Oeiras.
Uma das maiores criticas o ano passado foi a hora de inicio da prova. A provar que é sempre possível melhorar, a organização colocou o inicio da prova para umas muito mais simpáticas 8:30. Outra alteração de peso foi o percurso. Em vez de termos as voltinhas no Estoril e em Oeiras, a organização alterou o ponto da partida e colocou a distância pelas ruas de Cascais. Se por um lado a ideia foi boa, evitar a subida no Estoril e o percurso em Oeiras que envolvia uma passagem no parque em terra e um empedrado, é sempre positivo (embora pessoalmente eu gostasse muito de passar na minha terra adoptiva). Por outro o percurso inicial em Cascais com idas e retornos  na mesma rua, com os carros estacionados e o pelotão ainda muito denso tornaram o inicio algo caótico.

Às 8h30 lá estávamos os 3 prontos para atacar a Dª Maratona. Muita gente conhecida e após deixarmos os sacos no camião de apoio lá fomos para a partida, onde nos colocámos mesmo juntinho da bandeira das 3h45. Este ano a partida era na entrada do Hipódromo e não sei se é da minha cabeça mas é tudo muito apertado. Se o ano passado saí nas calmas, estes ano foi um stress só para conseguir passar o pórtico da partida. Fruto da alteração do percurso e do caos associado o 1km é feito a um ritmo muito baixo, e sempre a tentar ultrapassagens, energia que não se quer desperdiçar logo no inicio de uma maratona!

A partida impropria para claustrofóbicos.
Mas ao fim de 2km lá conseguimos estabilizar o ritmo e alcançar de novo a bandeira. Tendo em conta a minha não preparação, o meu plano era simples: ir num ritmo confortável de 5'15/km o máximo de tempo possível e depois tentar sobreviver o resto da prova. E assim fizemos, sempre uns metros à frente da bandeira lá seguimos Marginal a fora.

Este é um percurso que conheço quase de cor e sem carros a atrapalhar é efectivamente um grande postal que os inúmeros atletas estrangeiros levaram para casa. Em Santo Amaro tenho o melhor momento da prova, com a minha claque à espera. Com as energias renovadas lá seguimos no nosso passinho certo. Na Cruz Quebrada encontrámos o 1º abastecimento de isotónico mas está tudo muito confuso, a mesa com os copos é muito pequena, os copos já foram todos e os voluntários não conseguem repor a tempo. Acabo por pegar numa garrafa inteira e leva-la comigo.

Os três na Marginal no nosso ritmo certinho.
Chegámos ao pórtico da Meia Maratona com 1h50, média de 5'14/km. Perfeito. O problema é que não há milagres, e a partir do 24km, a cada km era mais difícil manter o ritmo. Ainda aguentei mais 6km mas ao 30km rebento. O ritmo baixa e deixo os meus companheiros seguirem para a sua prova. Pouco antes do Cais do Sodré passa por mim a bandeira das 3h45 e entro em modo de sobrevivência.

Curiosamente parece-me que a volta aos Restauradores não custa tanto como o ano passado e começo a desejar ardentemente o abastecimento dos 33km, porque haverá isotónico e toda a minha super estratégia contra as cãibras baseia-se em repor sais pelas bebidas. Mas mesmo antes dos abastecimento chega o choque. Após 34km o pelotão já está muito esticado e desde o Terreiro do Paço que sigo praticamente sozinho, mas de repente estou rodeado por milhares de atletas, é a malta da meia.
E um agradecimento ao patrocinador.
 Sei que houve quem tivesse gostado deste juntar de provas e tenha ganho alento com a os atletas da meia. Mas para mim foi terrível, quer a nível físico como emocional. Por um lado já não tinha energia para andar a competir por abastecimentos com pessoas muito mais frescas. Chegar perto do isotónico foi completamente impossível e até a água tive de andar uns passos para conseguir apanhar. A nível emocional o que me perturbou foi começar a ser ultrapassado e saber que todas aquelas pessoas tinham menos 21km nas pernas. Eu que tenho uma grande capacidade de correr sozinho, tentava desesperadamente encontrar algum atleta da maratona com que pudesse partilhar o meu estado de alma. Mas é quase impossível perceber quem está em que prova. Finalmente encontro um atleta que corre com a tshirt oficial e eu que sou super calado meto conversa.

Seguimos juntos alguns km's mas ele está em grandes dificuldades  e no Braço de Prata tem de caminhar e eu sigo. O ritmo entretanto baixou para perto dos 5'50/km e assim me arrasto até à rotunda do Pavilhão do Conhecimento.
Dedicada à minha mais que tudo...
Já dentro do Parque das Nações cheira-me a meta, ganho novo fôlego e começo a acelerar. Esta zona já está cheia de público e quando finalmente separam os atletas da meia parece que voltei novamente à maratona.

O último km é percorrido em menos de 5' e desta vez até me lembro de dedicar a prova à minha linda esposa e levantar os braços e celebrar.

Levanta os braços e sorri. Levanta os braços e sorri. Levanta os braços e sorri. Ah, e desliga o relógio!
Termino a minha 2ª Maratona com um tempo de 3h47'42''. Menos 10min que o ano anterior, em muito melhor estado e com um treino especifico miserável. Não é um tempo fantástico mas como dizem: não há almoços grátis. Desta vez levei a máquina de filmar e fiz um video sofrível que publiquei aqui.

Uma última palavra para os meus companheiros de empreitada que estiveram muito bem e literalmente que rebocaram naqueles primeiros 30km. Obrigado!

E finalmente a foto do triunfo!

domingo, 4 de outubro de 2015

Não há duas sem três...

Sim, este blog ainda não está completamente extinto. O número de posts inacabados e não publicados não pára de crescer mas este há de ser publicado em tempo útil ou não me chamo Roy.

O mote deste post é o facto de ter participado não em uma mas em três corridas de 10km em Setembro. Isto depois de ter dito que já não saía de casa para ir fazer aquecimentos... Mas entre borlas, clássicas e obrigatórias vi-me na linha de partida três vezes.

Corrida Jumbo 2015 - 5 Setembro 2015

Esta foi à borla. Não estava nos meus planos e nem sabia exactamente qual era a data. Mas nas vésperas um colega do Clube TAP, que estava inscrito, não pode ir e perguntou se alguém queria ir. O colector impulsivo de borlas que há em mim não resistiu ao apelo e após confirmar que ainda podia inscrever a minha filha na prova das crianças lá fomos todos para o Autódromo do Estoril.

Já tinha passado várias vezes à porta desse icone da imaginação de jogador de "Gran Prix" mas nunca tinha lá estado. O ano passado tinha participado na versão algarvia da Corrida Jumbo pelo que estava mais ou menos preparado para o que me esperava. Por mais plano que os circuitos pareçam na tv a verdade não é assim tão geométrica.
Partida dos Bambis com a grande atleta na linha da frente e o cota lá atrás...
Desta vez, se calhar pela prova ser de tarde, chegámos bem a tempo da Margarida fazer a sua prova. Embora ainda pudesse levar o cota a correr com ela (por estar no escalão bambi), logo me avisou que não precisava de ir com ela porque já sabia como era... Mas a facada no coração valeu a pena para poder ver a cara de felicidade ao cruzar a meta! Estava tão contente que nem me ouviu a chamar por ela!
E está feito! E nem estou assim muito cansada... Ah, e ganhei ao Batman!
Depois dos pequenos era a vez dos crescidos irem fazer o seu passeio. O esquema era semelhante à prova de Lagos, uma volta num sentido, passagem pelo paddock e nova volta em sentido inverso. Só para verem o quão inesperada foi esta participação, a prova foi no Sábado à tarde, na Sexta de manhã tinha feito um treino longo de 28km, numa semana com mais de 80km... Obviamente que as expectativas não eram muito grandes, entre o cansaço e o percurso pouco plano.
Como aprendi no "Gran Prix" fazer as curvas por fora.
Mas como sempre nestas corridas de 10km, mal passei a o pórtico o discernimento foi às urtigas e foi a acelerar até à Red Line. Quando o relógio apitou no 5km marcava 20:05 e o meu coração parecia que queria saltar pela garganta. Nestas corridas tenho sempre de encontrar formar de me motivar a continuar e não a estender-me no chão. Desta vez o estratagema foi tentar seguir a Mónica Moreiras. No tempo em que participava no troféu das localidades de Oeiras ela cilindrava a competição feminina e embora seja uma grande atleta nestes primeiros km's consegui manter-me na sua esteira. Obviamente que não consegui manter o ritmo e terminei os 10km ao sprint com o tempo de 41:05 a uns míseros 9s do meu RP oficial.
vrrrrmmmmmmm...
Excelente organização da HMS principalmente porque permite mascarar uma prova de 10km como actividade familiar. :) Entre a corrida dos pequenitos, as actividades para as crianças durante a prova (babysitting incluído) e todas as ofertas dos patrocinadores proporcionaram uma tarde em família muito divertida.
Boa disposição reinava no paddock.


Corrida do Tejo 2015 - 13 Setembro 2015

A clássica, o meu metrônomo da corrida, foi a minha 7ª participação.

Era para ter sido uma corrida a dois, mas infelizmente a minha cara metade ainda não voltou ao ritmo de outrora e não estava em condições de fazer 10km. Mas com a companhia do costume lá estava às 10h em Algés pronto para mais uma Corrida do Tejo.
Esta foi tirada já no fim, porque no início estava tudo demasiado ensonado para se lembrar de tirar selfies...
A organização reutilizou o esquema do ano passado e sem surpresas penso que correu tudo como esperado. Com o bónus de este ano a tshirt voltar a ser de uma grande marca de material desportivo. Obviamente que os blocos não foram respeitados, mesmo estando na 1ª linha do bloco sub45 (e portando apenas com atletas sub40 à minha frente) levei toda a prova a ultrapassar atletas e os primeiros metros foram completamente caóticos. 

Depois da surpreendente prestação na semana anterior no Estoril, parti convicto que seria desta que bateria o meu RP. Mesmo sabendo que o percurso não é exactamente fácil e de ter, mais uma vez, feito um treino longo de 33km numa semana com mais de 70km... A ilusão não tem limites...
Excelente foto escandalosamente usurpada ao Astrodeck Studio, só é pena eu estar meio tapado... 
Comecei super motivado mas com o caos inicial o 1km chegou aos 4:16... Demasiado tempo para o km mais fácil do percurso, recuperar seria quase impossível e a bandeira dos sub40 já estava a milhas. Pouco depois o meu relógio tem uma paragem cerebral e apita para os 2km quando nem 500m tinha feito deste a placa do 1km. As estatísticas ficam todas maradas, eu fico furibundo. Esqueço o RP e faço o resto da prova a gerir o esforço. E faço uma gestão tão eficiente que chego a Santo Amaro com energia e quando vejo novamente a Mónica Moreiras uns metros à minha frente e decido renovar o desafio da semana anterior (que existe apenas na minha cabeça) e acelero. A escassos metros da rotunda consigo ultrapassa-la e termino a prova em sprint com a euforia de quem acabou de ganhar a a medalha de ouro olímpica.

Termino os 10km da prova em 40:59 a 3s do RP. Fui tão rápido que nem a minha claque chegou a tempo de me ver cruzar a meta. E embora não tenha sido o record absoluto melhorei quase 1min em relação ao tempo da Corrida do Tejo do ano passado em que ia quase a ter um colapso cardíaco.

Foi mais uma manhã bem passada que continuou num almoço em excelente companhia!
A foto da praxe. Desta vez a Margarida não achou tanta graça porque não correu...

Corrida do Aeroporto 2015 - 27 Setembro 2015

E como não há duas sem três, duas semanas depois estava no Terminal de carga do Aeroporto de Lisboa pronto para mais um aquecimento prova de 10km.

Esta é uma prova que passou a ser obrigatória na minha época desportiva. Como referi no post do ano passado, não só trabalho no aeroporto como o ginásio que dá apoio ao evento é o ginásio que frequento. Há sempre muita gente conhecida e muita conversa para fazer. Esta foi mais uma prova a correr pelo clube TAP. É incrível como o tempo passa, já faz 2 anos que corro pelo clube. Infelizmente este ano os meus colegas de trabalho baldaram-se todos e por isso tive de defender a honra da Engenharia de Operações sozinho.
A vertente familiar da prova capturada em grande pelo LESTUDIO.PT
Foi mais uma prova muito bem organizada pela HMS e com tudo o que já nos habitou. A Margarida é quem mais aprecia as provas da HMS e mais uma vez aproveitou ao máximo. Mais uma vez não quis companhia na corrida e depois foram pinturas faciais, desenhos e brincadeira o resto da manhã. E ainda ganhou uma visita ao aeroporto sorteada pelo Clube ANA.
Legendas para que? A cara diz tudo!
Com a pequena atleta entregue era hora da prova dos grandes. O percurso era igual ao do ano passado, o que significava mais de 110m D+, a entrada no Parque das Conchas e os seus paralelipípedos irregulares e a subida em terra batida bem inclinada dentro do parque. Todos estes elementos fazem desta prova a mais dura das 3 em que participei este mês e imprópria para records.

Face a isto, e tendo em conta que o treino para a Maratona continuou durante a semana com mais um longo de 28km, obviamente que na linha da partida só pensava em bater o RP! No entanto enquanto furava o pelotão para me chegar à linha da frente encontro 2 colegas do Clube TAP e fiquei na conversa. Quando se deu a partida tinha um mar de gente à minha frente e levei novamente toda a prova a ultrapassar outros atletas.
Obrigado Sr. Fotografo, mas para o ano não se coloque no fim da subida... Não havia oxigénio para sorrir...
E quem é que também estava nesta prova? A Mónica Moreiras! Mas desta vez ia ao despique com uma atleta do Sporting e só a consegui ver nas ocasiões em que existiam retornos. Claramente na Corrida do Tejo ia no relax, afinal de contas é uma Atleta com "A" grande.


O facto de conhecer o trajecto permitiu-me fazer uma gestão super eficaz e passei aos 5km com 19:44, o meu melhor tempo. Mas ainda faltava a Quinta das Conchas e com o cansaço acumulado não consegui manter o ritmo.
E está feito! Novo RP!
O final desta prova é muito fixe, com uma descida jeitosa permite terminar em grande sprint e com a adrenalina aos saltos. Os últimos 500m fora corridos a menos de 3'30/km e passei a meta com um tempo de 40:32. E não é que, a treinar para uma maratona, numa prova difícil, bati o meu RP dos 10km. O sub40 ficou tão perto que quase o consigo saborear... Acho que ainda vou ter que fazer outro "aquecimento" este ano, um assim bem plano!

Até para o ano!